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A agilidade talvez seja o problema

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Pontos Principais

  • Muitas empresas são "ágeis fatigadas";
  • O "Complexo industrial ágil" é parte do problema;
  • Os agilistas devem focar na simplicidade dos 12 princípios do manifesto;
  • O coração do modelo ágil e da agilidade moderna são exemplos do básico, um simples framework;
  • Os agilistas tem muito a aprender a partir das ciências sociais como Psicologia Positiva, Investigação Apreciativa e Foco na Solução.

"Agilidade, agilidade, agilidade..."

Seria isso um mantra? Não necessariamente, embora possa induzir um estado de consciência alterada.

"A resposta para as principais perguntas da vida, do universo e de tudo mais?" (Douglas Adams, O Guia do mochileiro das galáxias). Talvez dependa de quem é questionado.

Elas são homônimos. Palavras similares e que soam parecidas mas têm significados diferente. Como a seguinte sequência gramatical composta de três diferentes palavras: "Bufalo, bufalo, bufalo…" (Dmitri Borgmann, Além da linguagem: aventuras na palavra e no pensamento).

O risco sobre a "homonimização" é que as palavras começam a significar qualquer coisa e tudo ao mesmo tempo até não significarem absolutamente nada. Fenômeno psicológico conhecido como "saciação semântica". Termo cunhado pelo psicólogo Leon James, a saciação semântica é uma forma de fadiga mental.

Chamado de inibição reativa, quando as células do cérebro consomem mais energia na segunda vez que pensamos sobre o assunto e mais ainda na terceira. Na quarta não se obtém resposta a menos que pensemos por segundos. Quando repetimos a palavra tendemos a nos tornar mais resistentes a ser deduzida novamente.

Atualmente "Ágil" significa qualquer coisa e tudo ao mesmo tempo, evoluindo para não significar nada. Muitas empresas são "ágeis fatigadas", são organizações inflexíveis ou resistentes quanto à "Agilidade, agilidade, agilidade...". Piorando ainda mais quando "As palavras perdem seu significado e as pessoas perdem sua liberdade" (Confúcio). Em algumas empresas o termo "ágil" passou a significar "gerenciamento de comando e controle". No exemplo a seguir Kent Beck expressa o desânimo vivenciado por muitos:

Kent Beck: Estive no Agile África na África do Sul e alguém me disse: "Queremos desenvolver um software mas simplesmente não podemos manter todas as cerimônias e rituais da agilidade. Queremos apenas escrever programas". Foi uma decepção. Como podemos trabalhar como se estivéssemos há 20 anos atrás? (Mensagem pessoal, citada com permissão)

Essa é uma ótima pergunta e levanta outras questões importantes como "Para onde estamos caminhando?" Ron Jeffries recentemente fez uma colocação relevante quanto a possibilidade a ser considerada:

Ron Jeffries: É hora de tentar algo novo como: Desenvolvedores deveriam abandonar o modelo "ágil"... Estou realmente propenso a pensar que desenvolvedores, independente da experiência, não deveriam aderir a nenhum tipo ou metodologia "ágil". Justamente por manifestarem os pilares centrais dos métodos, são muito mais prejudiciais do que benéficos para o bom desenvolvimento de software.

Independente da direção, comecemos pelo consentimento de que muitos agilistas são parte do problema. Existe uma tirinha em que o personagem Pogo diz ao porco espinho, "Conhecemos o inimigo, somos nós" (Walt Kelly, Pogo). Durante a Agile Austrália 2018, Martin Fowler coloca a mesma situação dessa forma:

Martin Fowler: ... o Complexo Industrial Ágil impõe métodos sobre as pessoas... uma farsa absoluta. Eu diria 'tragédia' mas acredito que a palavra 'farsa' é mais se adequada, pois no final, não existe uma única solução para todos os problemas no desenvolvimento de software. Ainda que os defensores de agilidade digam que o método ágil é necessariamente a melhor abordagem para usar em todos os lugares, a equipe envolvida no trabalho é quem deve decidir como fazer isso, esse é um dos princípios fundamentais da agilidade. Isso significa que, caso não queiram trabalhar de forma ágil, a agilidade provavelmente não é apropriada nesse contexto, e não usar o modelo ágil é a maneira mais ágil de fazer coisas em um mundo lógico estranhamente distorcido. Então, esse é o primeiro problema: o Complexo Industrial Ágil e essa imposição sobre melhor maneira de fazer as coisas. Precisamos e devemos lutar contra isso.

Complexo Industrial Ágil, Dark Ágil, Ágil Zombie e vai ficando pior. Como na fala de um colega que é psicólogo empresarial:

Agilidade é um vírus se espalhando pela empresa e não deveríamos nos surpreender com essa crescente resistência porque isso é o que antibióticos naturais fazem quando um antígeno invade o hospedeiro. (Mensagem pessoal)

Como assim?

Isso parece uma invasão. Acontece que os especialistas em transformação de negócios conhecem surpreendentemente pouco sobre a dinâmica das empresas e de psicologia da mudança. Um exemplo claro disso é quando notamos quanta resistência é criada instantaneamente, em diversos níveis, quando alguém é declarado "Mestre"? Especialmente quando o único domínio que possuem é de um evento de treinamento de dois dias! Bem, não me atrevi a dizer que o "coach" também é definido após um evento de treinamento de dois dias.

Recentemente, ouvi um "coach" perguntar: "É preciso ter um gerente de projeto muito bom para fazer o trabalho ágil?"

"Claro, um gerente de projetos de alto nível, um gerente de iteração, Scrum Master, como quiser chamá-los, que tenha uma fala suave e que conduza o projeto todo!"

Uma fala lamentável.

Um dos meus clientes, depois de explorar o vasto cenário de certificação, criou o seu próprio certificado. Agora dezenas de Scrum Masters e Product Owners orgulhosamente exibem nos espaços de trabalho: Agile Yahoo.

O que mais será inventado?

Política doméstica - dentro do mundo ágil

A política doméstica é uma estratégia ampla e abrangente, um plano específico, ou até mesmo um princípio simples para administrar os negócios dentro da própria organização.

Na era da expansão Ágil - transformação dos negócios - vamos primeiro esclarecer o que entendemos por "Agilidade, agilidade, agilidade".

Para dizer o que deve ser óbvio, aqui está um princípio simples para ser utilizado: Qualquer coisa "Ágil" deve referenciar de maneira explícita ou implicitamente os quatro valores e os 12 princípios do Manifesto Ágil (https://agilemanifesto.org). Deve conter "dicas" ágeis.

Precisamos voltar do futuro, voltar ao básico, voltar aos fundamentos. O agilidade precisa de uma reinicialização. As equipes "ágeis" devem revisitar o Manifesto e os 12 princípios regularmente. O que isso significa? Como estamos utilizando a abordagem? Como podemos continuar nos movendo nessa direção?

Isso significa uma poda constante em nossas próprias práticas "ágeis", se quisermos permanecer com o conceito de agilidade. "Simplicidade é essencial" (Os 12 princípios) é uma "dica" ágil e devemos beber nosso próprio Ki-Suco.

Como Dave Thomas diz, de maneira rápida e direta:

Entenda sua posição atual. Dê um pequeno passo em direção ao seu objetivo. Ajuste sua compreensão com base no que você aprendeu. Repita o processo.

Alistair Cockburn considera a mesma abordagem no Heart of Agile, quando sugere uma abordagem agnóstica é baseada na estrutura simples: Colaborar, entregar, refletir e melhorar. Na mesma linha o Modern Agile, de Joshua Kerievsky, é baseado em quatro princípios simples: Tornar as pessoas impressionantes, fazer da segurança um pré-requisito, experimentar e aprender rapidamente, além de agregar valor continuamente.

Política externa - fora do mundo ágil

A política externa pode ser uma estratégia ampla e abrangente, um plano específico, ou até mesmo um princípio simples para administrar os negócios externos.

Na era da expansão Ágil - transformação de negócios - será esclarecido o que se pretende com "Agilidade, agilidade, agilidade".

Quando grupos de pessoas, como os Agilistas, partem para outras terras, as culturas inevitavelmente se chocam.

As primeiras expedições ágeis foram caracterizadas pela diplomacia. Nossa conquista do gerenciamento de projetos, por exemplo, está quase completa.

Agora estamos permeando terras desconhecidas, como RH e os grupos de pessoas chamados psicólogos organizacionais, que têm certificações maiores do que os agilistas.

Qual é a nossa política diplomática? Nos consideramos invasores ou comerciantes?

Tenhamos cuidado com o colonialismo ingênuo, autodestrutivo, que presume a nossa superioridade como agilistas e que os nativos precisam ser catequizados em nossa cultura para o seu próprio bem e para nosso lucro.

É preciso ter cuidado, contrariando nossa própria assimilação, como os Vikings que desapareceram na história. Por exemplo, faço parte de um crescente movimento de Agilistas em todo o mundo, integrando Ágil com Psicologia Positiva, Investigação Apreciativa e Terapia Resumida Focada em Soluções. Veja o artigo sobre Soluções Ágeis Focadas. Concomitantemente, um número cada vez maior desses "Agilistas" está abandonando o "Ágil" ao mesmo tempo em que são totalmente assimilados em outros mundos.

Nossa política externa em toda a empresa não é trabalhar em um contexto fechado, mas sim explorar outras possibilidades.

Uma simples Matriz de Resolução de Conflitos ilustra essa abordagem (adaptado do TKI). Nossa postura não é concorrente (vitórias ágeis) e nem suprimível (perdas ágeis), mas colaborativa (o negócio ganha).

Este é um exemplo do Efeito Medici em ação. O livro de Frans Johansson de 2006, The Medici Effect, foi uma influência transformadora de pensamento. O Efeito Medici, em homenagem a uma família italiana do século 14 que provocou o Renascimento Europeu, refere-se ao pensamento inovador e disruptivo que muitas vezes saem da colisão na intersecção de diversas disciplinas, culturas e indústrias. Essa ideia repercutiu porque estava conduzindo experimentos de colisão desde que era uma criança com um conjunto de química.

O Efeito Medici responde a uma pergunta que me fazem ocasionalmente: Por que raramente assistimos eventos de agilidade? A comunidade ágil é importante. Mas o Efeito Medici me desafiou a avançar continuamente além dos limites de quem e do que conheço. Logo descobri que, para mim, a iluminação e as inovações são mais frequentemente provocadas pela interação com oficiais militares, líderes religiosos, poetas, filósofos, biólogos e psicólogos. Muito do trabalho que fiz tem sido conectar os pontos entre essas disciplinas relacionadas, às vezes sem relação, e experimentar novas e diferentes maneiras de trabalhar.

Conclusão

Pesquisa, princípios e práticas interdisciplinares são o futuro da metodologia ágil. E isso torna ainda mais importante que permaneçamos conectados às nossas raízes enquanto continuarmos a usar o nome "Ágil". Chega de "agilidade, agilidade e blá, blá, blá" por favor.

Sobre o autor

Maurice “Mo” Hagar, é atualmente Agile Coach em uma empresa com sede nos EUA. Ele ajudou mais de 60 empresas da lista Fortune 500 em todo o mundo a acelerar a mudança organizacional, o desempenho e os resultados. Suas áreas de especialização incluem Agile, Solution Focus, Strategic Foresight e Design Thinking.

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