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Iconoclastia e validação de hipóteses em startups

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O mundo dos negócios passa por grandes mudanças, em especial na forma como se cria produtos inovadores em ambientes de extrema incerteza. Boa parte das mudanças está sendo encabeçada pelo movimento de Lean Startup. O Lean Startup nasceu como espinha dorsal metodológica para aumentar as chances de sucesso durante a fase de startup; ou seja, como uma forma de trabalho para transformar aprendizados em resultados concretos, durante a etapa inicial de qualquer empreendimento de TI .

Esse movimento se baseia na aplicação, em startups, de alguns pilares da filosofia Lean, como por exemplo just-in-time, produção puxada (Pull System) e melhoria contínua. Seu principal benefício é a geração de valor de forma antecipada, por meio do aprendizado validado (testado) e com o menor nível de desperdício de tempo, dinheiro e talentos.

Vale destacar que o Lean Startup, deriva o conceito de just-in-time para proporcionar que os "estoques" de incertezas sempre sejam os menores possíveis em um ambiente de startup. E isso é de enorme valor e de grande aplicabilidade, acredito eu, a todas as empresas com necessidade de gerar inovações.

Segundo Eric Ries, autor do livro The Lean Startup e criador do movimento de mesmo nome, "uma startup é uma instituição humana projetada para criar novos produtos e serviços, sob condições de extrema incerteza". O Lean Startup oferece uma abordagem para encurtar o tempo de aprendizado sobre incertezas. O encurtamento se dá por meio da realização de testes para validar, ou invalidar, de maneira antecipada, hipóteses acerca de uma ideia ou produto.

A base do Lean Startup é a validação de aprendizados, pois ainda segundo Ries, "uma startup existe para aprender como construir um negócio sustentável". Esse aprendizado acontece através da experimentação científica, que por meio de mensurações, permite ao empreendedor validar ou refutar cada elemento de sua visão de negócio. Assim, um empreendedor, com base nos resultados de suas validações, pode prosseguir com seu produto/serviço, ou fazer pequenas alterações de percurso, ou ainda mudar totalmente e até desistir por completo daquela sua ideia.

Nadar contra a maré

Em específico, é importante considerar uma característica de boa parte dos empreendedores de sucesso. Talvez não exista uma fórmula mágica de incutir essa característica em empreendedores, por se tratar de algo pessoal, irracional e nem um pouco científico. É a iconoclastia, ou em outras palavras uma forma de "nadar contra a maré" quando se tem uma ideia e uma visão singular de futuro.

Um iconoclasta é alguém que, além de ter uma visão extremamente diferente das coisas, confia muito em seu instinto sobre o futuro, mesmo sem um motivo lógico, e mesmo com resultados iniciais desfavoráveis para a sua ideia.

Um iconoclasta, como indica a própria palavra, quebra ícones. Aqui o termo ícone é aplicado para representar as regras, o senso comum, as crenças, as premissas, ou qualquer outro tipo de pensamento que seja considerado como verdade absoluta ou como um conceito que nunca possa ser quebrado.

A grande questão é que quando se pressupõe um resultado de uma validação de hipóteses como sendo uma verdade absoluta, um ícone está sendo criado para aquele contexto. Por exemplo, se numa validação de hipóteses os resultados mostrarem que dez dentre dez clientes rejeitam determinado produto, poderia ser criado um "ícone" de que o produto não seja bom. Aqui um iconoclasta pensaria: "O problema não é com meu produto, apenas não estou atingindo o público certo para ele ainda" .

Força e visão

Pode parecer um pouco radical ou contra-intuitivo, mas pare para pensar: quantos negócios hoje bem-sucedidos passaram antes por uma fase de resultados totalmente desanimadores? E mesmo com resultados não favoráveis, sempre havia alguém que, mesmo chamado de louco ou teimoso, topou e aguentou passar um bom período "dando murro em ponta de faca", até aquela sua ideia emplacar no mercado.

Para que isso aconteça, costumo resumir que um iconoclasta, além da capacidade de "remar contra a maré", possui duas características fundamentais para o seu sucesso:

  1. Musculatura emocional. Ter ou estar disposto a desenvolver uma capacidade extrema de resiliência. Em outras palavras, desenvolver resistência psicológica para enfrentar os diferentes tipos de problemas e desprazeres pontuais de criar um empreendimento. Essa característica é de grande relevância, pois uma startup de maneira geral é um campo fértil para problemas em assuntos como relacionamento com clientes, questões jurídicas/legais, carga tributária, redes de parceiros/concorrentes. Além disso, um empreendimento tem uma forte tendência natural para um comportamento oscilante na sua saúde financeira. Portanto, é por meio da musculatura emocional que um empreendedor poderá olhar para qualquer "problema" como uma oportunidade de aprendizado e crescimento.
  2. Visão de futuro. Talvez a única maneira que um empreendedor tem para suportar as dores de empreender é se apoiar numa possível visão de sucesso e realização no futuro, que será gerada pela suplantação dos desafios atuais em seu empreendimento, e o aprendizado acerca desses desafios.

Estas constituem uma poderosa combinação de características pessoais para um empreendedor. Contudo é importante ressaltar que não estou dizendo que Lean Startup é um modelo limitado e que a iconoclastia é mais importante do que a validação científica de hipóteses. Muito pelo contrário, Lean Startup é uma ferramenta importante para qualquer empreendedor. E é claro que um iconoclasta não precisa ser tão extremo em suas convicções. A iconoclastia pode ser perigosa se uma pessoa ignorar os feedbacks e não aprender como melhorar continuamente o seu empreendimento.

Conclusões

Esse texto tenta ser um relato de batalha, com base em algumas experiências do autor, para socializar que o ato de empreender, mesmo que munido de uma boa metodologia, também requer certas competências emocionais vitais para ajudar um empreendedor a sobreviver aos desafios inerentes ao seu negócio. No final das contas o segredo é o equilíbrio, pois na prática, empreender trata-se de ciência empírica baseada em resultados, combinada com fé e confiança nos seus instintos.


Sobre o autor

Manoel Pimentel Medeiros (@manoelp) é Diretor Executivo do Instituto de Coaching Aplicado a TI (ICA-TI). Foi um dos pioneiros em Agile no Brasil. Tem um punhado de certificações e títulos, e é socializador de conceitos como TAE (Teoria da Alavancagem Estrelar), Manifesto for Meta-Agile, Coaching para Metalhoria, MVI (Minimum Viable Improvement), Rodeias (Roda de Ideias) e AgileMMA (Agile Mixed Methodologies Adoption).

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