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O Melhor do Encontro Internacional de Scrum em Seattle

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O Scrum Gathering de Seattle, realizado entre 16 e 18 de maio de 2011, foi um dos dois grandes encontros internacionais de Scrum organizados pela Scrum Alliance neste ano. As palestras foram ricas em novidades, os palestrantes de alto nível e os participantes estavam motivados e engajados.

Nas fotos: (1) Chet Hendrickson e Ron Jeffries dirigindo-se aos participantes durante um dos almoços; (2) Palestra do Open Space; (3) Os Scrum Trainers Michael James e Nigel Baker.

Uma das boas ideias da organização foi programar os coffee breaks propositalmente mais longos e com maior frequência, para promover a troca de experiências e contatos. Outra ótima ideia foi a de colocar Scrum Coaches à disposição dos participantes para marcar sessões individuais durante o Gathering.

Um detalhe importante é que o evento foi patrocinado pelo PMI, que lançou há pouco uma certificação Ágil. O instituto possuía um estande no evento e fez uma palestra sobre a nova certificação.

A Scrum Alliance disponibilizou vários dos materiais utilizados nas palestras e keynotes, que podem ser baixados aqui.

Abertura

Nas fotos: (1) Abertura de Bryan Stallings, o principal organizador do evento; (2) Chet Hendrickson entrevistando participantes; (3) Atividade realizada na abertura.

O encontro começou com um contratempo: fomos informados que Steve Denning, que faria o keynote de abertura, havia perdido o voo e chegaria atrasado. Os organizadores se saíram bem, realizando uma atividade com os presentes para ocupar o tempo. Nela, em cada mesa deveria se discutir sobre quais os maiores problemas enfrentados na adoção de Scrum, e Chet Hendrickson e Ron Jeffries entrevistaram alguns participantes. Entre os temas levantados, estavam:

  • Como engajar os Product Owners? E como trazê-los aos Gatherings, já que havia pouquíssimos deles presentes?
  • Como usar Scrum fora de software?
  • Como conseguir o apoio da alta gerência?
  • Como integrar os testadores ao time?

O keynote de Denning foi transferido para o dia seguinte na hora do almoço.

Keynotes

O nome de Steve McConnell como um dos keynotes do evento chamou a atenção. Figura importante e autor de livros clássicos nos anos 90, entre os quais se destacam "Code Complete" e "Rapid Development", McConnell não acompanhou a onda Agile. Os participantes que conheceram seu trabalho devem ter ficados satisfeitos ao vê-lo abraçando Agile e Scrum.

Nas fotos: (1) Steve McConnell; (2) Keynote de McConnell; (3) Steve Denning

Em seu keynote, "A Jornada para o Scrum em Toda a Organização", McConnell mostrou como passar de projetos-piloto a uma adoção global de Scrum na organização. Para ilustrar isso, utilizou exemplos de problemas que sua empresa, a Construx, enfrentou ao ajudar clientes a adotarem Scrum. McConnell deixou quatro ensinamentos: 

  • Agile é uma estratégia, e não um objetivo: "não busque agilidade em prejuízo da previsibilidade", "o pessoal de negócios prefere estar errado do que ser vago", "Agile não é tudo ou nada";
  • Não use Scrum para fugir da responsabilidade: "não utilize Scrum para se esquivar de prazos, custos etc.", "negócios vivem ou morrem em função de seus compromissos";
  • Dizer "Confie em nós, estamos fazendo Scrum" não funciona: "Scrum é um lugar a se chegar e não um ponto de partida", "deve-se conquistar a confiança primeiro";
  • Scrum não lhe dá a habilidade de mover montanhas: "não tente atacar todos os problemas encontrados"; e "o pessoal de negócios pode não achar que os problemas são realmente problemas".

E fechou com cinco recomendações-chave para o sucesso na adoção de Scrum:    

  • Se não obtiver sucesso no início, volte aos primeiros princípios
  • Lembre-se das áreas de aplicabilidade do Scrum;
  • Uma visão e um roadmap (de produto e de release) são fundamentais para evitar a maioria das falhas com Scrum;
  • Considere onde você está na "curva de adoção da inovação";
  • Quando estiver escalando Scrum, foque em práticas tradicionais de gerência de grandes projetos.

Ficou evidente que muitos dos presentes consideraram as opiniões de McConnell conservadoras. McConnell, no entanto, tem um nome a se considerar e fala a partir da prática, mantendo os dois pés na realidade.

Steve Denning fez seu keynote "Tornando a Organização Inteira Ágil" com um dia de atraso, na hora do almoço. Steve mostrou que a gerência tradicional falhou, e que deve ser reinventada: a organização deve se focar em criar um fluxo de valor para o cliente através da inovação contínua. Essa reinvenção envolve cinco mudanças fundamentais que devem acontecer juntas:

  • Novo objetivo para a empresa: encantar os clientes;
  • Mudança de papel para os gerentes: de controlador para possibilitador;
  • Trabalho coordenado: ligações dinâmicas ao invés de hierarquia burocrática;
  • De valor para valores (como transparência radical e melhoria contínua) que criam inovação e crescimento da organização;
  • Comunicação se transforma de comandos em conversas interativas para resolver problemas e gerar ideias.

Mais sobre esse assunto pode ser visto neste post de Denning.

Palestras

Nos dois primeiros dias de evento, participei de apresentações dos seguintes palestrantes:

Nas fotos: (1) Alistair Cockburn; (2) Mike Cohn; (3) Jeff Patton

A seguir, algumas observações sobre estas palestras:

  • "Introdução a Agile Avançado", por Alistair Cockburn: Cockburn mostrou alguns conceitos que definem o que seria o próximo passo de Agile – o Agile avançado – que são, segundo ele: a gestão de fluxo de trabalho, a aquisição de conhecimento, a metáfora do jogo cooperativo, a metáfora da arte e a autoconsciência. Este documento, distribuído na palestra, resume os principais conceitos apresentados por Cockburn;
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  • "Liderando um Time Auto-organizado", por Mike Cohn: Cohn afirmou que liderar um time auto-organizado é necessário, mas não significa manipular as pessoas nem utilizar-se de subterfúgios. Ele mostrou também como o líder pode influenciar o time e para isso apresentou o modelo CDE (Container, Difference, Exchange), que mostra que, para a auto-organização ocorrer, deve haver os limites dentro dos quais a auto-organização deve ocorrer, diferenças entre os indivíduos envolvidos, e trocas transformadoras através de interações entre eles. Os slides que Cohn usou nessa apresentação podem ser baixados aqui;
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  • "Segredos para Melhores Backlogs e Planejamentos Utilizando Mapas de User Stories", de Jeff Patton e Jeremy Lighsmith: Patton descreveu sua técnica de mapeamento de user stories (user story mapping), uma forma de organizar as histórias de usuários de forma a ajudar a entender o sistema, identificar erros e omissões no backlog e planejar as releases de forma a entregar valor para os usuários. Uma mensagem importante que Patton deixou foi que se deve priorizar os usuários primeiro, para só então priorizar as user stories. Outra mensagem foi a recomendação de se focar em apenas uma persona principal ao se planejar uma release. Curiosamente, Patton mostrou um vídeo com funcionários da Globo.com, a quem prestou consultoria em 2010, utilizando os mapas de user stories. Slides do autor sobre o assunto podem ser encontrados aqui (não são os utilizados na palestra);
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  • "Dominando o Básico de Narrativas de Liderança", de Steve Denning: Denning ensinou a criar narrativas que comunicam novas ideias complexas e transformadoras e levam os ouvintes à ação em direção à sua implementação. Os principais passos se resumem a conseguir a atenção das pessoas, gerar o desejo pela mudança e só então reforçar com as razões para as pessoas quererem a mudança. Denning utilizou-se de suas experiências no Banco Mundial com gestão de conhecimento para ilustrar sua palestra. Algumas mensagens importantes sobre as narrativas de liderança valem menção: "uma boa comunicação faz o complexo parecer simples", "simples não é enganoso", "menos é mais", "acredite intensamente, tenha convicção";
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  • "Inserindo o Projeto Rigoroso de Experiência do Usuário no Scrum", de Jeff Patton: Patton falou sobre a importância do projeto da experiência do usuário (UX design) no uso do Scrum. Segundo Patton, o projeto de UX deve acontecer na preparação do projeto antes da sprint (ready), durante a sprint (done) e após a sprint (inspeção e adaptação). Patton afirma também que a fase de descoberta do produto (product discovery), em que ocorrem pesquisas, exploração de possibilidades, validação e planejamento do produto, deve acontecer antes das sprints. Slides do autor sobre o assunto podem ser encontrados aqui (não são os utilizados na palestra);
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  • "Estendendo Scrum com os Princípios de Lean", de Alan Shalloway: Shalloway comparou Kanban a Scrum, mostrando vantagens que identifica do primeiro com relação ao segundo, além de mostrar alguns exemplos de projetos em que aplicou suas técnicas. Uma mensagem importante deixada por Shalloway foi que, para uma adoção de Agile, devem ser escolhidos projetos-piloto tendo em vista como esses afetam a organização (e não isoladamente). Outra mensagem que deixou foi que sistemas são projetados a partir de features de alto nível, e não a partir de user stories. Os slides da palestra podem ser encontrados aqui (é necessário registro gratuito).

Nas fotos: (1) Mapa de user stories na palestra de Jeff Patton; (2) Allan Shalloway; (3) Telas mostravam tweets sobre o evento

Espaço Aberto

Considerado por alguns como a parte mais importante do Gathering, o dia de open space foi realmente especial. Em torno de palestras definidas e conduzidas por participantes do Gathering, grupos de pessoas se juntaram para discutir os mais variados temas no terceiro e último dia do evento.

Nas fotos: (1) Marketplace do Open Space; (2) Escolha de palestras no Open Space; (3) O brasileiro Tiago Motta conduzindo sua palestra

Entre os assuntos escolhidos estavam: "Integrando membros do time muito rápidos com os muito lentos"; "Scrum para projetos fora de software"; "Ajudando a gerência a alcançar a Agilidade"; "Seduzindo o Product Owner"; "Dividindo user stories grandes em pequenas"; "Como variar as retrospectivas"; "Agile no governo"; "Definindo o tamanho certo para o time"; "Estimativa de impacto: calculando o valor de negócios". Esta última foi proposta e conduzida pelo brasileiro Tiago Motta, do Grupo UOL. As anotações das palestras podem ser vistas aqui.

Após um longo dia de palestras do open space, muitos se perguntavam se valia a pena esperar a palestra final. Os que decidiram ir mais cedo perderam a palestra mais elogiada de todo o Gathering. Joe Justice, empreendedor da região de Seattle, falou como utilizou práticas ágeis na criação e construção de um carro revolucionário e ultraeficiente em sua pequena empresa Wikispeed. A palestra foi excepcional e encerrou com classe o Scrum Gathering de Seattle.

Por um Scrum Melhor: Movendo o Ponteiro

O slogan oficial do Gathering, "Scrum Better: Move the Needle", reflete tanto o esforço e a dedicação dos que organizaram e dos que palestraram, quanto a disposição em contribuir e a avidez por novidades que a maioria dos participantes mostrou durante os seus três dias. O encontro foi intenso, dinâmico e muito instrutivo, e deixou em todos uma sensação positiva de sinergia e colaboração. A energia percebida mostra a evolução crescente da comunidade mundial de Scrum que certamente está contribuindo para “mover o ponteiro” do Scrum.


Minientrevista com a Diretora-Gerente da Scrum Alliance

Encerro com uma curta entrevista sobre o evento com Carol McEwan, a Diretora-Gerente da Scrum Alliance.

Rafael Sabbagh: Qual é a importância de um evento como o Scrum Gathering de Seattle para a comunidade internacional de Scrum?

Carol McEwan: O Gathering de Seattle contou com 286 pessoas de cinco continentes, foi fantástico! Eventos desse tipo são um componente crítico para o crescimento de nossa comunidade. O objetivo é aprender uns com os outros, e não há melhor forma para isso do que nesse tipo de ambiente. O evento ofereceu algo para todos, seja em conversas diretas com CSCs e CSTs, discussões no open space, atividades de grupo organizadas durante as palestras, ou através dos próprios palestrantes. Acredito que a aprendizagem estava acontecendo em todos esses casos.

RS: Qual foi a sua impressão geral sobre esse evento? Em sua opinião, quais foram seus pontos mais altos?

CM: Este foi o meu primeiro Gathering como Diretora-Gerente da Scrum Alliance, e devo dizer que fiquei impressionada. Os pontos mais altos para mim foram: 1) O grande trabalho em equipe realizado no evento, 2) A camaradagem que percebi em todos os participantes, e 3) As emoções geradas pelos palestrantes.

RS: Como Diretora-Gerente da Scrum Alliance, gostaria de dizer algumas palavras para a comunidade brasileira de Scrum?

CM: Gostaria de dizer que foi um prazer conhecer os brasileiros no Gathering de Seattle e quero ter a oportunidade de conhecer muitos outros da comunidade. Sugiro que se envolvam o máximo possível na comunidade brasileira de Scrum, para que possamos continuar a expandi-la. Vamos juntos “transformar o mundo do trabalho”! E se eu puder ajudar de alguma forma, não deixem de entrar em contato.


Sobre o Autor

Rafael Sabbagh (@rsabbagh) é Engenheiro de Computação (1999) e tem um MBA em Gestão Empresarial e Mestrado em Administração, todos na PUC-Rio. Trabalha há vários anos com liderança de projetos de TI e de equipes de desenvolvimento. É Certified Scrum Professional (CSP) e já atuou ou atua como ScrumMaster e Scrum coach, além de ensinar e divulgar o Scrum em palestras, eventos e organizações. Conduziu sessões ou apresentou trabalhos em quatro Scrum Gatherings internacionais (EUA, Alemanha, Brasil e Holanda) e nas conferências Ágiles 2009 e Agile Brazil 2010.

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