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Sobre fazer da diversidade algo comum, por Louda Peña, da ThoughtWorks

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Pontos Principais

  • O esforço de construir uma força de trabalho diversa e inclusiva deve ser intencional e prioritário;
  • Tecnologistas estão em uma posição privilegiada neste mundo, e deveriam ser os agentes de uma mudança progressiva;
  • Um ambiente de trabalho diverso começa por um entendimento até os mais altos níveis corporativos sobre o porquê a inclusão é importante, e invariavelmente deve ser incorporada na cultura da organização;
  • Todas as organizações deveriam trabalhar os preconceitos inconscientes que são sutis;
  • Sensibilização e reconhecimento são os primeiros passos em direção à mitigação dos efeitos negativos e para a criação de um ambiente de trabalho mais inclusivo.

Acompanhando a sequência de prêmios e reconhecimentos recebidos pela ThoughtWorks por inclusão e diversidade, o InfoQ conversou com Louda Peña sobre suas experiências como integrante desta cultura e sobre o que é preciso para fomentar um ambiente de trabalho genuinamente diverso e inclusivo.

InfoQ: Por favor, conte um pouco mais sobre os prêmios recebidos recentemente pela ThoughtWorks.

Na edição 2016 da conferência Grace Hopper Celebration of Women in Computing, a ThoughtWorks foi reconhecida por meio de um programa do instituto norte-americano Anita Borg (ABI) como a campeã entre as melhores companhias para mulheres na tecnologia. Este programa reconhece companhias engajadas em construir ambientes de trabalho nos quais mulheres da área de tecnologia possam crescer. Este programa usa uma metodologia rigorosa para analisar dados das organizações participantes. Em 2016, 60 empresas participaram e juntas, contabilizaram mais de 1,4 milhões de empregados norte-americanos, dos quais 552 mil eram tecnologistas de 10 indústrias.

O reconhecimento e as manchetes resultantes dele estão nos ajudando a amplificar nosso impacto. Nem todos imaginam que a ThoughtWorks, fundada em 1993, cresceu a partir de um pequeno grupo em Chicago para mais de 4500 pessoas espalhadas por 42 escritórios em 15 países.

InfoQ: Como a ThoughtWorks aborda a diversidade?

Certamente foi uma honra tremenda sermos reconhecidos como a melhor empresa para mulheres na tecnologia, mas como uma ThoughtWorker, isso não foi uma surpresa. Um de nossos três pilares fundamentais é advogar pela justiça social e econômica, que se traduz em tomar medidas acionáveis que resultem em progresso. Cremos que uma ampla variedade de experiências e repertórios contribui positivamente para a qualidade dos nossos produtos e serviços, e que no fundo, é a coisa certa. Temos focado nessa luta pela inclusão há um bom tempo e enquanto estivermos comprometidos pelo progresso obtido, não iremos parar.

O esforço de construir uma força de trabalho diversa e inclusiva é intencional e prioritário. Nosso processo de entrevista, feito em um diálogo de duas mãos, tem intenção de providenciar uma visão clara aos candidatos dos nossos principais valores, além das filosofias sobre justiça social e muito mais. É também uma oportunidade para os candidatos dividirem conosco o seu verdadeiro eu. Fazemos nosso melhor para garantir que há um grupo variado de pessoas conduzindo a entrevista. O ajuste cultural é primordial. Não se trata de concordar em si, mas de garantir às pessoas que trabalham aqui que serão felizes entre seus colegas. Acreditamos que todos merecem um espaço especial e que a única coisa inerentemente errada em um ambiente de trabalho diverso é a falta de um.

Nossos líderes têm dado muito apoio para todos como testemunhas. Eles dão exemplos sobre como construir um caminho até a liderança. Trabalhei em ambientes que, tipicamente, possuem diretores e outros gestores que enviam uma mensagem sobre essas posições não serem para qualquer um.

Algo que amo sobre a ThoughtWorks é que não há um número mágico que estamos tentando alcançar para provar nossa diversidade. É claro que o número ajuda quando tentamos explicar nossos avanços, mas o fato é que sentimos estar em um grupo de colegas bem balanceado. É um sentimento realmente muito especial. Percebo que há áreas ainda onde podemos melhorar, mas para mim, estamos bem posicionados para fazer isto.

InfoQ: Por que a diversidade importa tanto?

Há tantas maneiras de responder a isso, mas posso começar por mim: 40 anos, mulher, latina, gay. Estou exposta ao ódio em vários níveis: pela minha preferência sexual, pela minha pele escura, pelo meu gênero e, agora que estou mais velha, em relação a minha idade também. Essa combinação tem sido um desafio ao longo do tempo. Estar apta a funcionar bem em um ambiente de trabalho -- onde minha identidade é uma habilidade -- me liberta para pensar mais criativamente, me sentir confortável em expressar opiniões, e me empodera para falar sobre injustiças que vejo interna e externamente.

Se você puder, imagine agora que temos 4500 pessoas que estão aptas para funcionar bem. Pessoas que não são vistas por uma lente de gênero, raça ou identidade, e sim por seu conhecimento, curiosidade e entusiasmo.

Como uma organização, acreditamos estar numa posição de sorte neste mundo. E devemos ser agentes dessa mudança progressiva. Pode soar muito aspiracional, mas isso é fundamental para a identidade da ThoughtWorks. Ela é construída nas nossas ações e pensamentos do dia-a-dia.

InfoQ: Como podemos assegurar que não se trata apenas de um esforço simbólico?

Recentemente em uma conferência de tecnologia, estive presente em uma discussão sobre diversidade no trabalho. Uma pessoa que liderava o grupo dizia "Somos tudo em diversidade. Acabo de contratar 2 novas pessoas; um africano e uma mulher." Então esta pessoa comentou como apenas contrataria pelas habilidades independentemente da identidade. Isto é uma forma absolutamente errada de abordar a diversidade no ambiente de trabalho. É hipocrisia essa síndrome de "sim, tenho um amigo XYZ", o que supostamente diria que você não é homofóbico, racista ou misógino.

Um ambiente diverso começa por um entendimento do porquê de sua importância até os níveis corporativos mais altos, e também incluindo isto sem remorsos na cultura da organização. Nossa indústria é baseada na corrida até a linha de chegada e isso faz com que seja criada uma mentalidade de lucro em primeiro lugar. Colocar a importância do dinheiro acima de tudo pode ser prejudicial, especialmente quando se trata de contratações. Por exemplo, ao ampliar sua busca de talentos além dos focos habituais, provavelmente demandará mais tempo e esforço. E tempo é dinheiro. Somente organizações verdadeiramente comprometidas continuarão com este esforço adicional.

InfoQ: O que outras organizações deveriam fazer para ajudar a alcançar estes tipos de resultado?

Há uma longa lista com atividades que as organizações podem seguir, indo desde a criação de programas educacionais até treinamentos sensitivos e boas-vindas a um novo talento. A lista é grande mas algo no qual as organizações deveriam focar são os preconceitos inconscientes. Todos nós temos preconceitos, sim! E as pessoas não são más porque elas possuem algum tipo de preconceito, mas é muito importante direcionar isto. A consciência e o reconhecimento são um primeiro passo para mitigar os efeitos negativos e criar um local de trabalho mais inclusivo. Uma abordagem pró-ativa e o envolvimento em conversas difíceis de forma respeitosa ajudam os funcionários a se comunicarem mais efetivamente, levando a uma melhor colaboração.

O mundo de hoje é mais caótico do que nunca e está cada vez mais difícil para as organizações permanecerem fora de discussões potencialmente divisoras. Este cenário representa novos desafios e uma oportunidade de criar propósitos compartilhados, aproximando os funcionários. Providenciar tempo, espaço e recursos para os funcionários se auto-organizarem e darem suporte uns aos outros é muito efetivo. Nós nos vimos engajados desde atividades aparentemente pequenas (com grande impacto) como deixar o escritório mais verde, ou grupos sociais semanais para quem se identifica como LGBTQ e seus amigos, até o suporte a organizações locais como o Black Girls Code (Garotas Negras Programam) ou a artistas políticos locais que precisam de voz como o Impact Hub. Estamos engajados diariamente nos níveis locais, o que nos leva a impactar os níveis globais.

InfoQ: A ThoughtWorks é uma organização global; quais diferenças você vê na abordagem de mulheres e grupos sub-representados ao redor do planeta?

As características culturais e imperativas que compartilhamos são consistentes em nossos escritórios ao redor do globo. É a tática e a execução que são diferentes, variando de escritório para escritório e de região para região. Coletivamente, estamos todos nos esforçando para fazer a nossa empresa e a indústria mais reflexivas sobre a sociedade à qual servimos.

Espaços comunitários compartilhados para promover parcerias e grupos locais de tecnologia além de organizações de justiça social são um elemento importante em cada um dos nossos escritórios. Funcionários são encorajados e empoderados a usar o espaço para hospedar eventos como meet-ups, hackathons e debates no horário de almoço, apenas para citar alguns. Alguns exemplos incluem:

  • Londres - o grupo Mães na Tecnologia usa o espaço do escritório para ensinar mães em licença-maternidade a programar em um curso de 8 semanas.
  • Nova York - o grupo Technovation usa o espaço compartilhado durante um fim de semana para hospedar a competição 2017 Regional Pitch.
  • Hyderabad - o Vapasi, um programa focado em trazer mulheres de volta ao trabalho, provê um bootcamp em um período de 4 semanas, com intenção de ajudar a afiar as habilidades de programação das participantes em sessões práticas.

Não há uma abordagem de tamanho único para todos. Cabe a cada escritório entender e decidir o que funciona melhor. O objetivo final continua o mesmo: providenciar um espaço seguro onde todos são bem-vindos e a inovação pode prosperar.

Mas o que é a rosa para nós pode ser também o espinho: é um desafio manter a organização comprometida com uma grande porção de nossas pessoas se mudando constantemente entre escritórios. Entretanto, quando algo é construído dentro da espinha dorsal da companhia, nunca se tornará algo secundário ao trabalho, será apenas parte dele.

Sobre a entrevistada

Louda Peña é gerente de marketing de produto para GoCD na ThoughtWorks. Nativa da Bay Area, Louda adquiriu um amor profundo pela Califórnia e por toda a diversidade que ela tem para oferecer. Durante sua carreira profissional, alavancou a arte do marketing e tecnologia para construir uma empresa antes de trabalhar para a ThoughtWorks. Essas experiências únicas abasteceram sua habilidade para mergulhar em projetos de forma muito mais estratégica. Em sua vida pessoal, Louda é uma ávida viajante, conhecedora de tequila e entusiasta de motociclismo. Poderá encontrá-la facilmente passando seu tempo com sua esposa e filha ou caminhando pela fazenda de sua família.

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