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Como a personalidade influencia no desenvolvimento de software

Pessoas da liderança têm orquestrado diversas contribuições de indivíduos com diferentes personalidades para formar grandes equipes. Eventualmente, membros de equipes podem decidir agir fora de um papel e se engajar em um comportamento fora de suas zonas de conforto para contribuir com o objetivo da equipe. Para reduzir riscos de exaurir ou comprometer sua saúde física, deve haver "nichos restauradores" para que essas pessoas possam voltar a ser elas mesmas novamente.

O Dr. Brian Little, Pesquisador e Professor no Departamento de Psicologia e afiliado à Judge Business School da Universidade de Cambridge, discursou no Agile Cambridge 2017 sobre a influência da personalidade. A conferência ocorreu entre 27 e 29 de Setembro em Cambridge.

O InfoQ entrevistou o Dr. Little sobre o papel que diferenças na personalidade atuam quando pessoas trabalham juntas, como pessoas introvertidas e extrovertidas diferem ao trabalhar em equipe, como "traços livres" orientam nosso comportamento, como lidar com problemas de personalidade nas equipes, e como construir grandes equipes.

InfoQ: Qual o papel da diferença de personalidades quando pessoas estão trabalhando juntas?

Dr Brian Little: Psicólogos da personalidade distinguem cinco grandes dimensões da personalidade. Sob o acrônimo OCEAN (em inglês):

  • Abertura para experiência vs. Fechado a experiência (Openness to experience vs. Closed to Experience)
  • Consciência vs. Descuido (Conscientiousness vs. Carelessness)
  • Extroversão vs. Introversão (Extraversion vs. Introversion)
  • Amável vs. Desagradável (Agreeableness vs. Disagreeableness)
  • Neuroticismo ou Instabilidade Emocional vs. Estabilidade (Neuroticism vs. Stability)

Onde cada um se encontra nessas dimensões é um bom indicador de consequências importantes no nosso dia-a-dia no trabalho. Por exemplo, aqueles que são abertos e conscientes são mais predispostos a ter melhor performance, mas diferem de como se destacam: indivíduos abertos se destacam porque trazem novas ideias ao local de trabalho; indivíduos conscientes porque são confiáveis e dispostos a cumprir tarefas rotineiras de forma efetiva e eficaz. De forma similar, indivíduos extrovertidos e amáveis também contribuem para a vida social no trabalho: extrovertidos são gregários e procuram estímulos enquanto indivíduos amáveis são naturalmente adeptos a nutrir e motivar os outros. Indivíduos neuróticos são particularmente sensíveis a algumas ameaças de seus ambientes; como canários em uma mina, eles podem perceber preocupações legítimas que seus colegas mais estáveis não percebem.

InfoQ: Como introvertidos e extrovertidos diferem ao trabalhar em equipe?

Little: Há muitas áreas onde eles diferem, mas aqui estão cinco implicações ao trabalhar em equipes:

  1. Diferem na necessidade por estímulo: em comparação com introvertidos, extrovertidos têm menos excitação neurofisiológica nas áreas do cérebro envolvidas com performance, então eles buscam estímulo de seus ambientes. Introvertidos, em contraste, precisam baixar seus níveis de estímulo por isso geralmente evitam atividades em grupo. E podem acabar, incorretamente, sendo vistos como insociáveis.
  2. Diferem em como processam informação que aprendem. Extrovertidos precisam se engajar enquanto aprendem, preferindo troca verbal e discussões. Introvertidos não atuam bem com essas trocas, preferem, ao invés disso, ter comunicação clara e bem organizada antes das reuniões.
  3. Diferem em seus estilos de interação. Extrovertidos permanecem próximos, falam alto e se comunicam mais diretamente que introvertidos. Introvertidos adotam uma abordagem mais experimental, complexa e indireta. Culturas diferentes variam em como os estilos de interação são mais extrovertidos ou introvertidos, resultando em riscos para falhas de comunicação.
  4. Diferem na forma como abordam seus ambientes diariamente. Extrovertidos são primariamente motivados ao buscar recompensas, enquanto introvertidos são motivados a evitar punições. Como resultado, extrovertidos podem não ver as desvantagens de suas ações, enquanto introvertidos podem não ver o lado bom deles mesmos. Os dois extremos podem criar problemas para grupos.
  5. Diferem no impacto que álcool e cafeína tem em suas performances e comportamento sexual. Mas quem estaria interessado neste assunto?

InfoQ: O que são os "traços livres" e como eles orientam nosso comportamento?

Little: O traço livre é um termo que uso para descrever indivíduos que agem fora de suas características. Por exemplo, uma pessoa biologicamente introvertida pode atuar como extrovertida (seu traço livre) para progredir em um projeto pessoal central. Ou, uma pessoa amabilíssima, pode atuar de forma desagradável por todo o mês de agosto (seu traço livre) porque seu trabalho requer isso. Agimos fora de nossas características por motivos profissionais e também por amor. Há tanto benefícios quanto custos ao se esforçar nos traços livres. Os benefícios são que somos mais capazes de progredir em nossos projetos principais e, ao investir em comportamentos fora de nossa zona de conforto, expandimos nossa agilidade em lidar com situações desafiadoras. Mas há custos se agirmos prolongadamente fora de nossas características. Corremos o risco de esgotamento e, em casos mais sérios, comprometer nossa saúde física.

Podemos nos proteger contra esses custos utilizando o que chamo de "nichos restauradores". Lugares onde podemos sair de nosso modo traço livre e nutrir nossos traços mais naturais. Por exemplo, eu, sou naturalmente introvertido, então, após uma performance extremamente extrovertida como professor, preciso encontrar um lugar quieto, calmo e legal, onde possa me restaurar. E extrovertidos naturais que tiveram que agir como introvertidos o dia todo no escritório vão se restaurar procurando lugares mais estimulantes, barulhentos e energizantes.

InfoQ: Como lidar com problemas de personalidade nas equipes?

Little: Estar ciente de como as personalidades funcionam é crítico para lidar com problemas que podem aparecer. É por isso que acredito que mesmo uma pequena visão geral das dimensões de personalidade, projetos pessoais e traços livres podem estimular a comunicação entre indivíduos para compartilhar suas experiências pessoais. Isso é particularmente efetivo ajudando indivíduos a enxergar eles mesmos e a outros como pessoas, ao invés de problemas. Senso de humor é crítico nesse esforço de humanizar nossos locais de trabalho, especialmente se o acesso ao café, álcool, e outros prazeres não estiverem disponíveis.

InfoQ: Qual seu conselho para construir grandes equipes?

Little: A personalidade é crítica para construir grandes equipes. Uma equipe composta apenas por indivíduos calorosos e amáveis é mais propensa a ser feliz, compensadora, mas improdutiva, enquanto uma equipe predominantemente estável, focada em resultados e socialmente desagradáveis podem ser eficientes, ainda que com risco de perder motivação. Idealmente, uma grande equipe tira vantagem de ter personalidades diversificadas em seus membros. Por exemplo, indivíduos conscientes podem contribuir para a implementação efetiva padrões operacionais, enquanto membros mais abertos a experiências podem contribuir com ideias mais criativas. Indivíduos nas duas extremidades dos traços do OCEAN tem contribuições importantes para uma equipe e um bom líder irá orquestrar essa diversidade de contribuições. O líder também deve estar ciente que dependendo do trabalho a ser feito, alguns indivíduos deverão agir em seus traços livres para atingir objetivos comuns ao grupo. É nesse ponto que o grupo precisa de um "acordo de traços livres" onde concordam que devem agir fora de suas características naturais para avançar o objetivo da equipe, e desde que sejam concedidos nichos restauradores em que possam ser eles mesmos novamente.

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