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Precisamos mesmo da iteração zero?

Existem geralmente diversas atividades que precisam ser realizadas antes do início de um projeto, para que então se passe a atividades que agregam valor de negócio para os clientes. Com esse objetivo, as equipes ágeis muitas vezes utilizam uma iteração inicial, conhecida como iteração ou sprint zero. Mas seria a maneira mais adequada?

George Dinwiddie explica que, por mais que as equipes tentem realizar todo o trabalho preliminar no sprint zero, perceberão que ainda restam muitas atividades desse tipo a serem executadas nos próximos sprints. Além disso, ao antecipar muitas tarefas, corre-se o risco de que as decisões estruturais, tecnológicas e funcionais definidas no sprint zero passem a determinar a direção geral do projeto.

Dwinwiddie recomenda que toda iteração necessariamente produza software funcional:

Pergunte-se o que é necessário para realizar uma primeira entrega. Divida esse trabalho em fatias ou fluxos menores e defina os exemplos que representam a aceitação desses fluxos. Caso tenha dúvidas que não possam ser sanadas em algum fluxo, deixe-o de lado por enquanto. Em seguida escolha o fluxo principal, que percorra o conceito do negócio do início ao fim (ou o mais próximo disso possível). Estime esse fluxo como a primeira iteração da equipe, sempre lembrando que as estimativas não precisam ser exatas, pois são apenas estimativas. Então comece a construir esse fluxo.

De acordo com Dinwiddie, essa é a melhor maneira para se começar. A equipe deve adquirir as habilidades necessárias sobre as tecnologias e construir gradualmente a infraestrutura do projeto, ao mesmo tempo em que desenvolve as funcionalidades de negócio.

Ainda restará trabalho de infraestrutura a ser feito, mas não há porque apressar-se nessa atividade. Apenas continue evoluindo a infraestrutura na medida em que isso aumente sua capacidade de entrega. Da mesma maneira, ainda restarão habilidades técnicas a serem desenvolvidas. Mantenha-se sempre experimentando e testando novas possibilidades técnicas. Por fim, ainda restarão funcionalidades a serem adicionadas ao backlog, refinadas, priorizadas, divididas em histórias e priorizadas novamente. Essa será a dinâmica ao longo de todo o projeto.

Na mesma linha, Artem Marchenko não recomenda a existência de uma iteração em que nada possa ser apresentado. Mesmo que, inevitavelmente, grande parte do trabalho da iteração zero seja realizado em atividades preliminares, Marchenko também acredita ser necessário validar o fluxo principal do sistema de ponta a ponta.

Alistair Cockburn opina,

Tenho a sensação de que alguém foi questionado sobre sua aplicação do Scrum ao realizar alguma atividade inicial sem valor de negócio aparente, e inventou “Isso foi o sprint zero!”, para livrar-se de pressões. Muitos consideraram esta uma boa resposta e passaram a utilizá-la... e isso se tornou parte da cultura.

Questionado sobre a equivalência entre a iteração zero e um planejamento inicial excessivo, George Dinwiddie afirma não acreditar em uma iteração zero sem que isso ocorra. Por outro lado, sugere a necessidade de aprofundamento da equipe na visão e nos objetivos gerais do projeto, o que não ocorre na maioria das vezes. Na prática, as principais atividades realizadas nessa etapa são o detalhamento do backlog e a criação da infraestrutura técnica do sistema.

De maneira similar, Ken Schwaber diz,

“Sprint zero” se tornou uma expressão mal usada para descrever o planejamento que ocorre antes do primeiro sprint. Uma vez que o planejamento geralmente produz artefatos que são alterados com frequência, essa atividade deve ser minimizada no início e depois ocorrer a cada reunião de revisão e de planejamento de sprint (constituindo o planejamento just-in-time)

Parece, portanto, haver um consenso de que é melhor evitar o sprint zero, sempre que possível, e de que o grande benefício está em agregar valor ao negócio desde o início.

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