Jez Humble, consultor da ThoughtWorks e coautor do livro Continuous Delivery, faz uma análise crítica sobre alguns dos principais métodos e práticas ágeis de desenvolvimento, entre elas o TDD e a programação em pares. Para Humble, grande parte do mercado tem realizado a adoção dessas técnicas através de uma cópia precipitada e superficial dos rituais e cerimômias observados nas empresas de sucesso:
Por serem sistemas complexos, [...] há grande dificuldade, em projetos de software, de coletar dados sobre quais técnicas, práticas e metodologias são realmente eficazes - e é quase impossível de generalizar esses dados fora do contexto em que foram coletados.
Humble faz também um questionamento sobre o desenvolvimento orientado a testes e a programação em pares:
Utilizar TDD realmente leva a software de maior qualidade? Seria a programação em pares um substituto superior à revisão de código, ou apenas uma forma de se ganhar mais dinheiro com consultorias?
De acordo com Humble, não existem evidências científicas de que essas técnicas sejam realmente eficazes, dada a inexistência de estudos confiáveis sobre o assunto. Ele acrescenta que os estudos existentes, na sua grande maioria, apresentam análises e informações precárias, e que são experimentos realizados em ambientes de estudantes:
O resultado dessa realidade é a impossibilidade de se levar a sério qualquer conclusão generalizada de que as práticas ágeis de desenvolvimento sejam melhores que as práticas do modelo tradicional (waterfall), ou vice-versa. A intuição de "especialistas" também não serve como prova. Como Kahneman diz: "A confiança que as pessoas têm em suas intuições não é uma prova confiável de sua validade [...]. Ao se avaliar a intuição de especialistas, deve-se sempre considerar se houve oportunidades suficientes para se entender como chegaram a essa intuição."
Humble afirma que, devido à característica complexa dos projetos de desenvolvimento de software, o principal princípio trazido pelo Agile, associado ao pensamento enxuto (Lean Thinking), é a redução dos ciclos de feedback. Para ele, as nuances de cada metodologia teriam pouca importância em comparação aos ganhos trazidos pelos ciclos reduzidos de feedback contínuo.
Humble conclui indicando que o principal problema das metodologias de desenvolvimento é a sua tendência de fazer com que as pessoas copiem suas práticas de maneira superficial, sem um entendimento mais aprofundado de sua razão de existir, esperando obter os mesmos resultados de sucesso obtidos por outras organizações.
Humble faz uma analogia dessse comportamento ao comportamento das culturas indígenas, conhecidas por seu culto à carga, que buscam imitar o comportamento observado em grupos civilizados, geralmente militares, na esperança de receberem os mesmos mantimentos que estes grupos recebem nas entregas realizadas por aviões cargueiros.
Para Humble, o efeito mais nocivo dessa cópia irrefletida dos rituais e cerimônias das metodologias de desenvolvimento é o fato de que as pessoas se esquecem do mais importante: a criação de uma organização que seja capaz de aprender e se adaptar da maneira mais rápida possível.