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Tratores com Agile: a experiência da John Deere e seus 1500 agilistas

[Este texto foi expandido e aperfeiçoado pela equipe do InfoQ Brasil]

O InfoQ.com entrevistou Chad Holdorf, que desde 2008 atua como Agile Coach na John Deere, sobre a recente transformação ágil na divisão de desenvolvimento de software da empresa (Intelligent Solutions Group, ou ISG). Holdord é funcionário da John Deere, não um consultor externo, o que torna suas perspectivas ainda mais relevantes.

InfoQ: Como a mudança para Agile ocorreu na John Deere? Algum evento específico iniciou o processo, ou foi simplesmente o reconhecimento gradual dos seus benefícios?

Chad Holdorf: A John Deere começou a experimentar com o Scrum em algumas equipes em 2007. No começo de 2010 já havia 10 equipes praticando Scrum e muitas outras querendo aprender. Em setembro de 2010, diante da proximidade do lançamento de um produto em janeiro de 2011, concluímos que não seria possível entregar funcionalidades críticas novas sem uma mudança substancial na nossa maneira de trabalhar. Então quebramos barreiras funcionais, organizamo-nos em equipes ágeis, e introduzimos o Scrum e outras práticas para mais de 150 pessoas, em uma semana. Daquele momento em diante o produto inteiro passou a ser desenvolvido de forma ágil.

InfoQ: Qual o tipo de Agile vocês estão implementando? Scrum? XP? Uma abordagem híbrida?

CH: Várias empresas utilizam um acrônimo de três ou quatro letras para descrever um processo ou produto. Introduzimos o SADM, ou Scaled Agile Delivery Methodology (Metodologia Ágil de Entrega em Etapas), para orientar um método comum de trabalho Agile dentro da ISG. O SADM combina o Scrum com as principais práticas do "Scaled Agile Framework", XP e Lean em um processo holístico.

InfoQ: A adoção do Agile pela Deere foi um movimento somente do setor de TI, ou houve participação e apoio das unidades de negócio?

CH: Os métodos Agile estão se espalhando pela John Deere. É claro que não temos toda a John Deere praticando Agile; porém cada vez mais unidades estão implementando práticas ágeis. Hoje a empresa possui mais de 1500 pessoas praticando Agile.

InfoQ: A adoção de práticas Ágeis pode representar uma mudança cultural para a organização. Como a John Deere está administrando esta mudança?

CH: Inicialmente subestimei a mudança cultural pela qual passaríamos. A maioria dos papéis e tarefas foi afetada. Mas fomos pacientes. Defendemos continuamente o novo processo e os benefícios que esperamos que traga ao negócio. Além disso, o Agile geralmente é bem recebido pelas equipes de desenvolvimento, e como são eles que escrevem e testam todo o código, esta parte foi relativamente fácil.

No final, toda empresa deve traçar seu caminho para qualquer novo processo, que traga maior qualidade e produtividade e reduza o tempo de entrega, além de aumentar o engajamento dos funcionários. Sem esse plano, elas simplesmente não irão ter sucesso. Na Deere, estamos mudando há mais de 150 anos. Não mudar, geralmente, não é uma opção.

InfoQ: O que fez a John Deere adotar uma mudança repentina para o Agile, no lugar de uma adoção gradual?

CH: Os produtos da John Deere são fortemente integrados em um sistema muito maior, que consiste em máquinas sofisticadas e complexas. Se fizéssemos uma adoção gradual, a integração entre produtos desenvolvidos com métodos diferentes seria dolorosa e quase impossível de coordenar. Mesmo assim, a adoção foi de certa forma gradual, pois foi implementada em grupos de 100 pessoas em um período de 3 a 6 meses.

InfoQ: Como acontece o processo ágil de estimativas?

CH: Utilizamos estimativas baseadas em pontos de histórias (story points) em toda a empresa. Essas métricas são referentes à equipe, e não à organização como um todo. No futuro, passaremos a usar o feature throughput, que mede a taxa de entrega de features (ou seja, conjuntos de histórias do usuário relacionadas com a mesma funcionalidade de uma aplicação). Esta é uma medida mais adequada de velocidade.

InfoQ: Como outsourcing e offshoring se encaixam na sua mudança para o Ágil?

CH: Temos duas localizações offshore (fora do país) da Deere que também adotaram o mesmo processo. Seguimos intencionalmente o mesmo calendário de sprints, que torna a coordenação muito mais fácil. Já para o outsourcing, nós estamos trabalhando com nossos fornecedores para treiná-los em práticas Agile, facilitando a comunicação e coordenação.

InfoQ: Como a John Deere lida com conflitos entre Product Owners?

CH: Temos uma mesa de pingue-pongue no escritório e deixamos que se resolvam por lá. :) Sinceramente, todos querem mais do que é possível. Temos que fazer concessões constantemente, e tentamos focar simplesmente no que irá prover o trazer mais valor para os clientes da John Deere.

InfoQ: Como a agilidade se adequou aos seus produtos de software? Há alguns mais adequados do que outros?

CH: Bom, é mais fácil implementar métodos ágeis em nosso software para web do que aplicar em colheitadeiras, irrigadores e tratores, mas todos seguem o mesmo processo e têm a mesma mentalidade: produzir software de alto valor e alta qualidade, rapidamente, e que agrade nossos clientes.

InfoQ: Quais recomendações você daria para outras pessoas que querem implementar o desenvolvimento ágil de software?

CH: Diria que nunca existe um "bom momento" para grandes mudanças, e algumas vezes parece mais simples continuar do jeito como se sempre fez. Mas, como se sabe, o mundo está mudando rapidamente, assim como nossos consumidores e as demandas de mercado, e isso e exige que nós mudemos também. Recomendo começar com algumas equipes ágeis, e depois avaliar e adotar o que funcionou melhor. E quando a empresa e as pessoas estiverem dispostas à mudança, ande rápido e não olhe para trás.

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