A inteligência artificial está mudando a maneira como interagimos com a tecnologia. Eliminar interfaces de usuário que são desnecessárias torna a interação com as máquinas mais humana, argumentou Agnieszka Walorska na conferência da ACE 2019. Walorska comentou, "Tenho certeza de que em breve teremos novos trabalhos de design que não existiam antes, por exemplo, assistentes de designer de personalidade virtual".
As expectativas em relação à experiência do cliente mudaram e um fator que está se tornando cada vez mais importante é o machine learning. Os algoritmos de machine learning são usados na maioria dos produtos digitais que usamos com frequência. A maioria dos clientes tem como expectativa a personalização, que está ficando cada vez melhor graças ao uso dos algoritmos, disse Walorska. Muitas pessoas usam Netflix, YouTube, Facebook e Amazon, e produtos altamente personalizados que estão estabelecendo os padrões para todos os outros produtos do futuro.
Walorska mencionou também que estamos nos acostumando a interfaces de voz cada vez mais sofisticadas, que não seriam possíveis sem o machine learning. Desde que os humanos inventaram os computadores, tiveram que se comunicar de uma maneira que fosse compreensível para as máquinas, pois lutavam (e ainda lutam) para entender nosso modo natural de comunicação. O progresso no machine learning e na inteligência artificial torna possível fazer o contrário, as máquinas estão melhorando a "compreensão" com os seres humanos, não apenas o discurso, mas também os gestos, imitações e biologia.
Uma interação mais humana seria aquela que nos libertaria das telas. Atualmente, estamos olhando fixos para as telas, numa média de 3:15 horas por dia, só nos smartphones. Crianças e adolescentes de 8 a 18 anos nos EUA passam em média mais de sete horas por dia olhando para as telas. Walorska mencionou que as experiências antecipatórias que aprendem com nossos dados, interfaces de voz, sensores e interfaces cérebro-computador têm o potencial de economizar parte desse tempo, porém tudo tem um custo, que neste caso é um conhecimento ainda mais profundo dos nossos dados comportamentais.
Walorska citou Steve Jobs:
Muitas pessoas cometem o erro de pensar que design é o que está visível. As pessoas pensam que é esse verniz, que os designers recebem uma caixa e dizem: "Faça com que pareça algo bom!" Não é isso que pensamos do design. Não é apenas o que parece. O Design é como as coisas funcionam.
Walorska mencionou que esta declaração caracterizará cada vez mais o trabalho do designer no futuro e espera que o papel dos designers e desenvolvedores se torne cada vez mais semelhante. "Para projetar interações orientadas por algoritmos, precisamos ter pelo menos um entendimento geral da tecnologia, ao projetar experiências digitais na era algorítmica, também enfrentamos questões éticas difíceis como privacidade, viés algorítmico, dependência da tecnologia, etc".
O InfoQ entrevistou Agnieszka Walorska, fundadora da Creative Construction, após a palestra na conferência da ACE 2019:
InfoQ: Qual é o estado da prática de lidar com a empatia nas interfaces do usuário?
Agnieszka Walorska: Um fator para definir o quanto desfrutamos de uma interação é a empatia. Quando nossos colegas reconhecem quando estamos frustrados, quando diminuem o passo quando estamos confusos, aceleram quando estamos impacientes, etc. Para uma experiência mais humana, a empatia é necessária, e isso é algo que as máquinas ainda não estão bem desenvolvidas. É por isso que a interação com o software, mesmo que seja inteligente, ainda é bem insatisfatória (ao contrário do que vemos no filme "Her"). Para aproximarmos da nossa capacidade humana, os assistentes inteligentes devem reconhecer e se adaptar ao estado do usuário, isso envolve consciência, emoção ou compreensão.
Enquanto o reconhecimento de fala está ficando muito bom (a Amazon patenteou um recurso Echo que identificará um resfriado ou tristeza pela maneira como a pessoa conversa) e o reconhecimento dos gestos e expressões faciais está se tornando muito mais preciso (podemos consultar por exemplo, a API do Microsoft Emotions), existem poucos sistemas que usam informações verbais e visuais para reconhecer o estado do usuário e menos ainda que conseguem alterar o comportamento em resposta aos estados de acordo com essas percepções.
A questão é, será possível, no futuro, que as máquinas reajam a essas percepções da maneira que os humanos descreveriam como empático, ou ainda precisaremos de humanos para as tarefas que exigem empatia? Se fosse para apostar, ficaria com a última opção, ainda haverá algumas coisas que nós, como seres humanos, somos melhores.
InfoQ: Quais são as possíveis consequências do design artificialmente inteligente em termos de privacidade e autodeterminação?
Walorska: Já estamos vendo muitas consequências. Nos encontramos em uma espécie de "vale misterioso dos algoritmos". O termo "Uncanny Valley" originalmente se refere à robótica. O termo afirma que a aceitação de robôs e avatares depende do grau de antropomorfismo, ou seja, quanto maior a semelhança com os seres humanos, mais gostamos deles, ao menos até certo ponto, em que a linearidade cessa e percebemos os humanóides como algo assustador.
Podemos aplicar o mesmo para os algoritmos. Adoramos personalização e previsão, pois isso nos proporciona uma experiência melhor, até que seja boa demais e começamos a nos perguntar: "Como sabem tudo isso sobre nós?"
A questão da autodeterminação é ainda mais difícil, pois a linha entre orientação, recomendações e manipulação podem ser muito pequenas. Tendemos a confiar nas recomendações das tecnologias que usamos, seguimos cegamente o Google Maps, desligando nosso cérebro e não conseguimos nos orientar sem ele, deixamos o YouTube reproduzir automaticamente os vídeos e passamos horas percorrendo os feeds do Facebook ou Instagram. Temos mais do que já gostamos ou acreditamos, o que pode fortalecer nossas bolhas de filtro já existentes ou nos levar a nos tornarmos mais radicais em nossas opiniões.
InfoQ: Como a ciência dos dados nos ajuda a aprender mais sobre como os clientes estão usando nossos produtos?
Walorska: Não consigo imaginar um produto digital em 2019 que não use analytics para aprender sobre os clientes. Um bom exemplo é o teste A/B ou o teste multivariado, como o Optimizely, que não apenas identificam as interfaces que geram comportamentos mais desejáveis, mas também mostram automaticamente as interfaces com melhor desempenho após atingir um número suficiente de interações.
Mas nos dois sentidos, os produtos de IA precisam que os seres humanos entendam mais sobre os clientes. Houve muitas publicações recentes que descrevem como os funcionários humanos estão ouvindo as conversas do Amazon Alexa ou do Google Assistant para identificar problemas com interações e melhorar os produtos (mas também interferem na privacidade).
InfoQ: Como os desenvolvimentos em IA afetam os trabalhos dos designers?
Walorska: Podemos ver a análise feita pela NPR intitulada "Seu trabalho será realizado por uma máquina?" Segundo o estudo, os designers estão bem seguros, já que a probabilidade das máquinas assumirem o design nos próximos 20 anos é de apenas 8,2%. Quando comparamos com a probabilidade de 48,1% para os desenvolvedores, parece algo realmente interessante.
Mas não estamos sendo otimistas demais aqui? Primeiro de tudo, mesmo que o trabalho de um designer digital seja uma ocupação criativa, também não está livre de todo trabalho repetitivo. Todo designer sabe como o trabalho pode ser pouco inspirador se tiver que criar 50 formatos diferentes de um banner de publicidade ou ajustar os gráficos de um aplicativo móvel para que fiquem bem em todas as resoluções em todas as telas. E há mais tarefas como essas. A maioria dos designers provavelmente não se importaria se essas tarefas pudessem ser executadas por uma máquina, e isso já está começando a acontecer. Todas as tarefas que podem ser automatizadas serão automatizadas.